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Onde a regeneração natural acontece?

Imersas em paisagens transformadas pela agricultura e pastagem, as florestas regenerantes oferecem habitat a uma grande diversidade de plantas e animais, ajudam a proteger os solos e as águas da microbacia, ajudam a conectar remanescentes florestais, e contribuem para o sequestro de carbono da atmosfera.

No entanto, não é em todo lugar que a floresta consegue regenerar sozinha rapidamente e com integridade. As taxas de regeneração variam enormemente entre localidades e até dentro de uma mesma paisagem. Essa variação é resultado de fatores que atuam em diferentes escalas e determinam, por exemplo, a taxa de crescimento das árvores, a taxa de colonização de novas espécies e quais espécies regeneram.

Em uma escala continental, o clima e o tipo de solo determinam a taxa de crescimento da vegetação. Florestas úmidas crescem mais rápido que florestas secas devido à grande disponibilidade de água ao longo do ano todo, o que permite o crescimento contínuo das plantas. O pool de espécies também é diferente entre regiões e permite diferentes estratégias de regeneração.

Em uma escala local, dentro de uma mesma paisagem, a regeneração depende de duas condições principais: i) que as espécies estejam disponíveis para colonizar a área que foi abandonada e ii) que as espécies que chegaram ali tenham condições de crescer saudáveis (Figura 1). A disponibilidade de espécies depende do banco de sementes/propágulos do solo e da chuva de sementes que chegam das florestas do entorno. Uma vez que a espécie consiga chegar na área, a sua performance (i.e., o sucesso de estabelecimento e a taxa de crescimento) dependerá da qualidade do solo e da competição com espécies agressivas (como as gramíneas das pastagens).

Figura 1. esquemática indicando as situações onde existem melhores (verde escuro) e piores (verde claro) condições para a regeneração natural (RN) das florestas.
Figura 1. esquemática indicando as situações onde existem melhores (verde escuro) e piores (verde claro) condições para a regeneração natural (RN) das florestas.

A disponibilidade de sementes é muito afetada pela paisagem. As características da paisagem como a proximidade aos remanescentes florestais, o grau de fragmentação das florestas e o tipo de matriz agrícola definem a disponibilidade de espécies através da densidade e composição da chuva de sementes. Por exemplo, em sistemas de agricultura de corte e queima, comuns nas paisagens ribeirinhas Amazônicas, a matriz agrícola é predominantemente coberta por florestas secundárias (estado de pousio) e pequenos roçados, permitindo a ampla dispersão de espécies florestais. Em outro extremo estão as paisagens dominadas por extensas pastagens e/ou agricultura mecanizada, comuns no arco do desmatamento, onde existem poucas florestas remanescentes e a matriz agrícola é pouco permeável à fauna, resultando em uma baixa dispersão de sementes e portanto uma baixa disponibilidade de espécies para regeneração.

A performance das espécies é muito afetada pelo uso da terra. O uso prévio do solo determina a densidade e composição do banco de sementes/propágulos no solo e as condições locais para a performance das espécies, como a qualidade do solo (física e química) e a competição com espécies agressivas. Por exemplo, um pasto que foi queimado muitas vezes, terá um banco de propágulos empobrecido porque apenas as espécies com elevada capacidade de rebrota e aquelas com sementes resistentes à dessecação e fogo sobreviverão. Além disso, o capim das pastagens reduz o sucesso de germinação e a taxa de crescimento das espécies florestais nativas. Assim, apenas um pequeno subgrupo de espécies florestais é capaz de chegar ao local, germinar e crescer para regenerar a floresta.

A combinação do uso prévio do solo e das características da paisagem definem, na escala local, as condições para a regeneração florestal, ou seja, a capacidade de regeneração natural e sua integridade ecológica. Onde há elevada disponibilidade de espécies e boas condições de crescimento, a regeneração será rápida e com elevada diversidade e, portanto, com alto sucesso de restauração. Mas onde há pouca disponibilidade de espécies e condições ruins para seu desenvolvimento, a regeneração natural será lenta e com baixa diversidade. Nestas condições, o plantio de árvores e/ou o manejo da regeneração natural devem ser necessários para a restauração ecológica.

O diagnóstico das condições da paisagem e do uso prévio do solo é, portanto, um passo essencial no planejamento da restauração, na seleção da técnica a ser usada e até mesmo na seleção das espécies a serem usadas, seja em plantios em área total ou de enriquecimento.

Para saber mais sobre como o uso da terra e as características da paisagem afetam a capacidade das florestas regenerarem, veja os artigos publicados por nosso grupo de pesquisa:

INPA
UFSC
Serrapilheira
SinBioSe